terça-feira, 30 de junho de 2009

Sansão de saia

Toda vez que alguma coisa importante, (ok, que eu considere importante), sendo para o bem ou para o mal, acontece em minha vida, eu faço alguma arte no meu cabelo.

Isso já me gerou diversos problemas a médio e longo prazo, mais ou menos o tempo que um cabelo precisa para crescer novamente ou para que aquela tinta infeliz desça ao ponto de um bom corte...

Neste exato momento, por sinal, estou maturando a idéia de passar a tesoura nos meus cabelos. Porém, para isso parecer belo aos olhos alheios, preciso investir pesado em uma boa "escova qualquer coisa que alisa mesmo depois de uma lavagem capilar sem o uso de secador". Como ando meio sem grana para tal investimento e diante de todos os traumas do passado estou ponderando bastante as consequências desse meu desejo.

Na Feira de Santana da década de 90, alguns eventos eram intensamente aguardados e desejados pala juventude local.

Em especial, existia um baile pré-micaretesco chamado Cajú de Ouro no extinto Clube de Campo Cajueiro, o mais bem frequentado clube do sertão baiano, que era um divisor de águas na vida de qualquer criança.

Deixar de ir ao Cajú Mirim, bailinho matinê que rolava dia ou dias antes do Cajú de Ouro e passar a frequentar esse baile momesco era carimbar seu passaporte para a maturidade, mesmo que fosse acompanhado de pais, tios, padrinhos, irmãos mais velhos, ...

Dessa forma, como já podem prever, isso era muito importante para mim e o meu primeiro Cajú de Ouro então gerou unhas ruídas, falta de apetite, insônia, tamanha era a apreensão com a data vindoura.

Claro que comprei uma roupa nova. Look completo. Lembro bem, uma saia vinho de brim e uma blusa de manga comprida com uns desenhos psicodélicos da Zapping, grife que nem sei se existe mais, compradas na boutique mais chique da cidade, Geni Boutique, e um sapato boneca de verniz preto da Arezzo com salto intermediário (meu primeiro salto) importado diretamente da capital baiana. Coisa de louco!

As horas que antecederam a festa foi de salão também, unhas feitíssimas, depilação na época ainda não, afinal, eu tinha somente 13 anos e minha mãe não permitia muitas coisas que faço hoje (e que ela ainda não permite, diga-se) e o cabelo, ahh o cabelo! Minha primeira "arrumação capilar" para um "evento realmente importante" em minha vida! Aparei as pontas, tonalizei pela primeira vez de castanho acobreado, escovei e por fim pranchei as longas malenas. Já ia me esquecendo que na hora da prancha a cabeleireira queimou meu couro capilar com a lateral da dita gerando-me um eterno trauma do artefato finalizador de penteados, mas juro, isso definitivamente não ofuscou o brilho do meu cabelo que finalmente estava parecido com os cabelos naturais de minhas amigas, lisinho, lisinho...

Já saí de casa em baixo de uma chuva torrencial, coisa relativamente comum de se acontecer em Feira na época do baile. Levamos guarda-chuva mas em nada, dava no mesmo. Foi tanta água, mas tanta água que o castanho acobreado desceu cabelo abaixo deixando minha blusa da Zapping mais psicodélica ainda, o cabelo, claro, incompatível a qualquer gota de água encolheu e cacheou todinho dando fim assim ao meu sonho encantando de uma noite de outono.

No ano seguinte, não necessariamente consecutivo, eu sentia que tudo seria diferente e fui cortar meus cabelos com Jorginho, o cabeleireiro mais excêntrico e famoso da cidade.

"Oi FÓfinha, tudo bem? Como vamos cortar esse lindo cabelo?"

"Bem, eu queria um corte curto."

"Mas seu cabelo é um pouco cheio (modéstia dele), se cortarmos muito curto você vai ter trabalho em casa... (para domesticá-lo, claro!)"

"Então pode ser um corte intermediário (eu já sonhava com um cabelo curto nesta época)."

"Então vou fazer um corte que você vai A M A R."

Minha mãe já olhou atravessado lá do sofá, como se prevesse o final trágico dessa minha incursão.
Corte finalizado, escova aplicada, o cabelo era dos deuses. Ele tinha conseguido fazer um franjão e duas camadas bem definidas, o que dava a sensação de cabelo super comportado e o mais interessante, tinha ficado longo. Fui feliz da vida para casa me vestir e seguir rumo ao Cajú de Ouro, dessa vez só com amigas! (Ainda éramos menores de idade mas tudo em Feira era bem flexível e inocente nessa época).

O clima do sertão é bem peculiar e nada, nada propício para a manutenção de penteados, ainda mais no relento como acontecia essa festa. Dias muito quentes e abafados, noites frias e úmidas. Claro que cheguei linda e radiante ao CCC mas horas depois de exposição ao friozinho úmido da cidade...

"kkkkkkkkkkkkkkkk (Larissa apontando o dedo para mim)"

"O que foi?"

"kkkkkkkk (Fernanda rindo também)"

"O que foi gente? ( Eu já pensava em milhões de coisas, botão da camisa de cetim, que era moda na época, aberto, dente com pedacinho de carne-do-sol exposto, arght, batom borrado, sei lá!)"

"Rachel, seu cabelo tá muito estranho."

Impressionante como nessa idade costumamos ser especialmente cruéis com nossos coleguinhas.

Saí correndo que nem uma louca, cega por um banheiro com espelhos, afinal de contas, depois de ter passado pelo super Jorginho o que poderia ter dado errado?

Minha surpresa foi digna de um infarte fulminante.

Eu estava parecendo um cruzamento de Zezé de Camargo em início de carreira com seu mullet super brega longo e aqueles poodles de madame bem tosadinhos que vemos nos filmes estrangeiros.

Claro que do banheiro mesmo tomei o rumo de casa. Só avisei as meninas que não voltaria com elas e que estava pegando um táxi.

No dia seguinte fui a cabeleireiro, indignada, exigindo uma solução imediata para o meu problema. Como a merda já tinha sido feita, ele só conseguiu diminuir um pouco o comprimento do mullet e finalmente de cabelo curto, passei uns 3 meses indo ao colégio de cabelo preso e com "tic tacs" coloridas por toda a cabeça, tentativa deseseradora de conter a juba mal cortada.

Ainda recordando as estórias com meu cabelo, quando passei no vestibular para publicidade, vim a capital cortar o dito com um excêntrico cabeleireiro da Rua Alameda das Rosas na Pituba, muito conhecido pela classes mais abastardas de Feira de Santana.

A fachada era de uma casa comum com um sistema de interfone onde quem está lá dentro vê quem está de fora. Se esse interfone fosse recíproco eu com certeza não teria levado adiante aquela loucura, afinal, só uma olhadinha na cara de doido do profissional e eu entenderia o tamanho da enrascada em que estaria me metendo.

A recepcionista logo me questionou quanto a hora marcada e como disse que não tinha providenciado isso logo fui posta a escanteio. Depois de muito esperar sou conduzida até a cadeira do maluquinho. Mas a cadeira era um mero artigo de decoração. Ele cortava o cabelo das clientes em pé!

"Não precisa sentar querida."

"Ah, em pé mesmo?"

"Isso!"

O detalhe que no momento mais me preocupou é que eu era muito maior que ele e como sempre que vou cortar o cabelo rola várias medições em diversos ângulos como ele conseguiria fazer isso naquela situação?

E não fez.

Quando terminou, eu já tinha sentido uma coisa meio estranha, assimétrica por assim dizer. Em casa, analisando cuidadosamente a obra de arte me deparei com o lado esquerdo do cabelo 3 vezes maior que o direito. Entrei em depressão. Não queria nem sair de casa sem antes ir a um outro cabeleireiro. De quebra, minha mãe também insatisfeita com o resultado final e diante do alto valor desprendido pelo corte decretou que iríamos ajeitar sim mas com o mesmo cabeleireiro. E o desespero de encarar o baixinho e dizer:

"Oi, você deixou um lado do meu cabelo maior do que o outro."

Nossa, só imaginava aquela Mona descendo do salto e fechando o barraco comigo...

Mas tive que dizer exatamente isso:

"Oi, você deixou um lado do meu cabelo maior do que o outro."

"Não queridinha, você não entendeu a proposta do corte, ele é assim mesmo, uma coisa bem moderna."

Moderno você sair de casa com uma ladeira do Pelô na cabeleira?

Preciso mesmo perder esse hábito de mudar o cabelo a cada acontecimento de vida que considero importante, caso contrário, muito em breve correrei o risco de durmir com cabelo e acordar careca, no melhor estilo, tirei para lavar!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Pagode Russo


Impressionante como me meto em barcas furadas no quesito viagem.
E o pior, adoro viajar, acho muito interessante conhecermos lugares diferentes, pessoas novas, mesmo isso não sendo tão corriqueiro em minha vida, por diversos motivos, pesando aí o financeiro.


Neste São João, deixei minha tradicional foqueira com bandeirolas e todas as versões de milho, assado, cozido, in natura, na canjica, pamonha, no mungunzá, em Feira de Santana e desci rumo a Aracajú, minha terra natal com dois propósitos, acertar uns perrengues de família e me divertir, claro!


Minha mãe sofre de síndrome do pânico aplicada a filhos únicos e terminou por me convencer a ir de ônibus utilizando todos os argumentos de segurança reais e imaginados. Para evitar atritos, afinal, dirijo a 10 anos e ela acredita que sou o ser humano mais barbeiro e inconsequente da face da terra acatei a ordem, ops, sugestão e comprei a passagem.


Como resolvi isso muito em cima da hora, uma semana antes em se tratando de São João é, sem dúvidas, comprar de véspera, só encontrei ônibus extra, convencional, para o sábado, 08h00, na última poltrona. Além do cheirinho agradável de banheiro por 5 horas consecutivas, já certo diante da única poltrona disponível e ainda na eminência do carro não ter ar-condicionado o que me faria chegar ensopada de suor ao meu destino final resolvi ligar e me certificar.

"Bomfim bom dia! Em que posso lhe ajudar?"


"Então moça (Esse "então" meio paulista era para dar um "clima turistal" a ligação), eu preciso saber qual é o ônibus que vocês utilizarão no horário extra do sábado 20/06 às 8 da matina..."


"O ônibus possui somente um andar, relativamente novo e COM AR-CONDICIONADO."


"Tem certeza não é?! Posso comprar pela internet tranquilo?"


"Pode sim senhora."


"Ok então, vou finalizar o processo aqui. Obrigada"


"A Bomfim agradeçe seu contato, tenha um bom dia."


Dia 20/06 acordei 05h00 da manhã, extremanente receosa das condições da rodoviária haja vista experiências desastrosas anteriores.


Ai de mim que não tivesse acordado cedo!


Tinha tantas filas dentro da rodoviária de Salvador que você não conseguia definir quem ainda estava comprando passagem, quem estava na fila do embarque, do desembarque, enfim, era uma verdadeira Praça Castro Alves em dia de Chiclete com Banana, o caos instalado. Depois de empurrar uns jovens aqui, uns corôas alí, desviar por trás de um ônibus estacionado correndo o risco de ser atropelada pela ré do bicho, consegui chegar ao meu ponto. O carro estava atrasado alguns míseros minutinhos o que levou a administração da Bomfim a antecipar o carro de 08h15 para pegar os ociosos passageiros das 08h00.


Resultado óbvio, ônibus da década de 80, ainda forrado com courino marrom, amortecedores "pogobol", cortinas vermelhas e SEM AR-CONDICIONADO. Parecia saído de algum causo nordestino, quase a marinete da novela global Tieta do Agreste.


Sentei triste no meu assento. De um lado, a porta do banheiro já fétido, misto de desinfetante caseiro com anos crônicos de uso, do outro lado (sim, eu não consegui comprar janela) um jovem, calça destonada, camisa cheia de paetês, estilo Colcci para pobres, sapatenis três cores e um boné da Liga Americana de Basquete, falsificado, claro!


Desejei bom dia ao dito e me aconcheguei nos braços da minha tão sonhada poltrona.


De repente, o carinha se reporta a mim:


"Você tá indo pela primeira vez a Aracajú?"


"Não."


"Você é de lá?"


"Sim."


"Então tá indo passar o São João com a família."


"Exato."


"Ah, eu sou de lá mas estou morando aqui a alguns meses, estou trabalhando, estudando, ..."

Creio que ele ficou alguns minutos falando sozinho. Estava puta demais da vida para bater papo com um desconhecido. A rodoviária um caos, minha mala, esqueci de citar, sem rodinhas, parecia que tinha um elefante bem pesado dentro, o carro velho e sem ar-condicionado e ele ainda puxando papinho do tipo, nãovaitelevaralugarnenhum?


Desistiu. E resolveu chamar minha atenção de outra forma. Sacou de sua mochila hi-tech uma máquina fotográfica e resolveu visualizar um power-point com fotos de casal, sem dúvidas dele e da namorada ao som de "More than Words" do Extreme.


Ele realmente precisava de mais do que palavras para chamar minha atenção... Quase cortei meus pulsos diante de tamanha emoção.


Assim seguimos viagem, minha cabeça batendo no teto do ônibus muitas vezes, meu vizinho de poltrona com as pernas abertas me esmagando no lado oposto, assistindo em seu "i-pod" genérico vários clipes de "black music" com aquelas mulheres peitudas e gostosas alisando os cantores, a porta do banheiro, em cada visita, batendo no meu joelho direito...


A uma hora de Aracajú e eu já feliz por ter vencido 3/4 daquela via crucis o pneu traseiro resolve estourar. O barulho foi tão assustador que cheguei a pensar que o ônibus estava se desmanchando. Paramos no acostamento e diante do diagnóstico do motorista sobre a impossiblidade de seguirmos viagem meu vizinho, sim, ele mais uma vez, solta a seguinte musiquinha de seu sonoro celular:


"Balacubaco, mexer o balacubaco.


Balacubaco, mexer o balacubaco."

Título: Balacubaco


Banda: Parangolé


Composição: Indisponível

Com certeza nesse momento lancei-lhe um olhar fulminante, quase derretedor de celulares. Ele se tocou, desligou o aparelhinho e descemos todos para a beira da estrada, sem sinal algum de celular ou vida para assistir ao motorista de macacão de mecânico (não sei de onde ele tirou a indumentária) laranja habilitando-se a trocar o pneu danificado. Algo como trocar o pneu do meu Ford Ka, facinho, facinho!


Ainda sendo pouco, São Pedro lança uma tromba d´água exatos 10 minutos após o ocorrido levando todos os passageiros para dentro do carro as pressas. Mais fácil ainda para o "super mega blaster" motorista trocar o pneu do ônibus.


Claro que ele desistiu dessa idéia nefasta e através de algum Vivo vivo de alguém, ligou para o socorro da empresa que prometeu enviar um carro de Aracajú para efetuar o resgate.


20 minutos passados, nada do carro de Aracajú, encosta o ônibus das 08h15 e leva 11 passageiros somente com bagagem de mão. Mais 20 minutos depois e nada ainda do socorro chegar, pára outro carro, dessa vez com 17 poltronas livres e novamente disposto a levar passageiros mas somente com bagagem de mão. Bradei, claro e o intimidado motorista aceitou me levar na seguinte condição, minha mala pesada sem rodinhas sairia sim do bagageiro do carro com pneu furado mas teria que ir na parte de cima, como uma bagagem de mão. 13h00, fome, chuva, suor, claro que topei o desafio, quase coloquei meus bofes para fora ao subir com minha mala no ônibus mas consegui seguir viagem rumo a "capital do forró".


Ah! meu vizinho e sua mochila hi-tech foram no primeiro ônibus que passou.


Finalmente em meu destino, desci do ônibus apressada e já fui ao segundo andar da rodoviária garantir um bilhete de volta a Salvador no Gold, aquele ônibus chic com ar-condicionado, dois andares, água mineral, cafezinho... Nada me faria retornar em outro convencional.


Na fila a constatação. Meu celular i-phone, presente da Tim por fiel fidelização em mais de 6 anos (e por continhas um pouco por demais altas em alguns muitos meses desses 6 anos) tinha ficado no carro. Nunca desci escadas tão rápido em minha vida, a mala pesada sem rodinhas pouco me importava naquele momento, ficou na fila, em meu lugar. Imagina se eu perco esse celular? Meu próximo, na minha conjuntura econômica atual, seria sem dúvidas um reabilitado Star-Tech década de 90 da Motorola.


Os três degraus do ônibus viraram um só e adivinha, na minha ansia de recuperar o afamado celular despenquei que nem jaca mole, de ladinho, feri meu joelho e causei um roxo enorme em meu braço, achei até mesmo que tivesse fraturado tamanha a dor. Azul de vergonha e amparada pelo motorista, cobrador, etc, consegui me reestabelecer, peguei o aparelho e fui manca e maneta atrás do meu tio que prometera uma carona até o hotel onde eu enfim, repousaria.

Acham mesmo que terminou por aí?


No retorno a Salvador, vitoriosa, subi os degraus do Gold como quem sobe rumo ao primeiro lugar do pódio, calmamente, sem afobação, sentei e quem estava na poltrona da frente?


O vizinho balacubaco.


"Oi, tudo bem?"


"Ehh, oi!"


"Que coincidência não é?"


"Pois é!"

Pelo menos ele estava na poltrona da frente. Imediatamente coloquei-me a dormir sem dar chances a maiores diálogos. Alguns barulhos estranhos depois, que no meu superficial sono achava se tratar de algum sonho senti o carro encostar. Neste momento o ar-condicionado gelou mais do que o normal. Eu já sabia que dalí viria bomba e não era de São João.


Minutos ansiosos depois sobe a comissaria de bordo e avisa que o motorista tinha detectado um problema na bomba de ar (?) mas que isso não nos impediria de seguir viagem. Dos males, o menor, avante Salvador!


Na entrada de Guarajuba, praia do litoral norte baiano e a uma hora da capital da Bahia, a polícia pára o ônibus. Estava acordada e estranhei de imediato tal abordagem, pouco comum em ônibus daquele porte.


Novamente entra em cena a comissaria de bordo dessa vez transmitindo uma notícia que eu não desejava ter ouvido. O policial não deixaria que seguíssemos viagem por causa da bomba de ar (?) danificada.


Começei a rir.


Na minha cabeça o pé frio só podia ser do vizinho balacubaco. Claro, ele estava no mesmo ônibus, tanto na ida quanto na volta e como isso nunca acontece comigo... Imagina?!, nem um pouquinho mesmo! (Aguardem breves posts de antigas viagens)


Resolvemos descer e novamente me deparo com o motorista e sua indumentária de mecânico amador já no corpo. Dessa vez azul, diga-se. É quase a roupa do Super-Homem que fica por baixo do terno de Clarck Kent. Só faltava mesmo a beleza do jornalista e a eficiência do super-herói.


Mas meu maior susto mesmo foi ver o ônibus inclinado em mais de 45 graus para a esquerda. Foi isso que fez o policial parar o carro e não permitir que seguissemos rumo a Salvador, ou seja, corri sérios riscos de tombar em plena Linha Verde. Ia ser um excelente final de viagem e feriado!


Novamente teríamos que esperar um ônibus de Salvador para efetuar o resgate não fosse o policial determinar, diante da proximidade do final de seu plantão, que um carro CONVENCIONAL que estava rumo a Aracajú retornasse e nos acolhesse.


Bomfim nunca mais, Aracajú agora só de carro ou de avião!


E viva São João!!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O Yoga Tântrico


12 de junho de 2007.

Eu, recém solteira, com algumas amigas também solteiras, em busca de um lugar extremamente divertido e interessante para enfrentar a data mais melosa do ano...


Para variar fui ao cabeleireiro cortar as "malenas" (Sobre o meu cabelo, merece um post mais específico, em breve), fiz as unhas, depilei as pernas, ..., algumas horas depois e já muito tarde para uma saída em Salvador neste fatídico dia, levando em consideração as filas intermináveis nas portas dos restaurantes, lanchonetes, motéis, hotéis, etc, me largo que nem uma louca para casa ainda com o propósito de tomar um banho, colocar aquela roupa, caprichar no perfume...


"PQP, preciso entregar os filmes na locadora!"


Cansada de pagar multa, às 22h05 parei na porta da extinta Claket Vídeo na Euclides da Cunha.


O cenário era bem peculiar. Locadora quase fechando, dois atendentes e um cliente solitário lá pelas últimas prateleiras.


Encosto no balcão e o atendente A, digitando alguma coisa, de cabeça baixa, demora um pouco a me visualizar. Maldito computador!


Nesta fração de segundos em que aguardo o infeliz levantar a cabeça para me ver acontece o inesperado. Uma pessoa entra sorrateiramente na vídeo locadora e me abraça pela região da cintura, prendendo meu dois braços contra meu corpo, meio que por trás, de lado, ou seja, em uma posição que eu não conseguia mirá-la.


"Aháááá!!! Te peguei!"


De fato ela tinha me pegado. Com dificuldades, haja vista o abraço ser bem apertado, viro-me tentando visualizar quem me afagava tão entusiasticamente.


Sou caloura em Salvador, vim morar nesta terra a uns oito anos atrás por causa de uma certa faculdade de Publicidade e Propaganda e fui ficando... Na Graça sempre morei, salvo o primeiro ano que residi no Morro do Gato, dessa forma, pensei, não sou popular, nem tenho tantos atributos para ser mas já conheço algumas pessoas no bairro, poderia ser um(a) amigo(a) que não via a tempos.


Uma mulher (?) magra, com camisa pólo masculina, talvez tamanho G, era bem maior que ela, uma saia indiana longa igual a que minhas coleguinhas usavam na faculdade, sandálias rasteiras de couro, aquela que fede a cocô, muito comum no Mercado Modelo, uma capanga também de couro (todo mundo sabe o que é isso não é?) transpassada no corpo, sem brincos e cabelo raspadinho estilo Ronaldinho.


"Ehh, oi, tudo bem?" (Eu não sabia o que falar!)


Momento olho no olho, por um triz não me apaixonei.


"Acho que você se enganou"


Neste ponto ela já tinha me soltado e agora me fitava analiticamente.


"Poxa, você é muito parecida com minha professora de Yoga"


Retribuí com um sorriso amarelo.


"Você se parece demais mesmo com ela!" (Ela estava eufórica com tamanha semelhança)


Pausa para a descrição do ambiente geográfico.


Um jovem casal entra na locadora, o atendente A que levantou a cabeça na hora do abraço surpresa, continua a digitar algo e o atendente B, do lado de fora fazendo uma social com o pizzaiolo do estabelecimento vizinho.


Retribuí com outro sorriso amarelo e gaiatamente disse:


"Mas eu não sou professora!"


De repente o não tão inesperado dessa vez aconteceu. A criatura começou a proferir todo tipo de palavrão, dos mais escabrosos aos não tão assim, descrevendo a tal professora de Yoga, sua algoz, que até enfiar o **** ** ** * ****** dela enfiou, (PelamordiDeus) com lágrimas mistas de ódio e dor nos olhos, e cuspindo ao mesmo tempo que gritava. Sim, ela gritava dentro da locadora, o atendente A continuava de cabeça baixa a digitar, sem dúvidas praticando a máxima da descrição que alguém disse a ele ser o ideal a se fazer nesses casos, o casal na última prateleira antes ocupada pelo cliente solitário que já tinha ido embora e eu, desesperada, completamente encurralada, a própria vaca a caminho do abate, entre ela e uma prateleira de DVDs só sabia repetir, um verdadeiro disco arranhado:


"Eu não sou sua professora de Yoga"


Passados segundos intermináveis de desespero ela diz:


" Eu sei que você não é minha professora de Yoga, você só se parece com ela."


Jesus, que alívio!! Naquele momento pensei, tranquilo, ela vai recuar, vou entregar os DVDs, que ainda estavam em minhas mãos e sigo rumo a comemoração do dia com as amigas solteiras. Ledo engano.


"Mas me diga uma coisa, como juíza que sei que é."


"Eu não sou juíza." (Impaciente)


"O que você faria em meu lugar?"


A pergunta foi meio complexa para o conturbado momento, o que eu faria no lugar dela? Tipo, baixaria o cacete na professora, viraria lésbica e me atracaria com a dita, hum, ela nem me deu tempo de responder.


"Eu beijaria ela."


A cena seguinte foi de cinema, bem digna de acontecer em uma locadora. Uma mulher em cima de mim e da prateleira de DVDs, beijando meus braços, minha bochecha, eu tentando me limpar da bába proveniente dos beijos e ao mesmo tempo imaginando uma forma de sair dali, o atendente A de cabeça baixa, digitando alguma p**** no computador, o jovem casal ainda na última prateleira, totalmente indiferente ao que acontecia, o atendente B entrando neste momento, olhando a cena e pensando pela feição que exprimiu: "Opaaa!!! O negócio aí tá bom heim?!"


Até hoje tento entender como cheguei ao carro.


No outro dia, me dirigi a locadora, indignada e cheia de razão. Conhecia os donos, uma dupla (??) bacana, precisava contar o ocorrido a eles, outras clientes precisavam ser protegidas das garras lesbianescas daquela tentativa de mulher.


"Olha pessoal, preciso mesmo contar a vocês o que aconteceu ontem aqui (...) como ninguém me ajudou? Tinha dois atendentes na locadora e mais um casal, ninguém moveu um DVD sequer para me ajudar..."


E o dono A, consternado disse:


"Rachel, não acredito que isso aconteceu com você..."


Seguido pelo dono B:


"Bem que o atendente A comentou sobre uma briga estranha de CASAL que rolou ontem, pertinho do horário de fechar..."


Cuidado com as professoras de Yoga.